sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"O Dom"

"No entanto continuava ali sentado, a fumar e a balançar suavemente a ponta do pé e, enquanto os outros continuavam a falar e ele próprio se lhes juntava, tentava, como fazia sempre e em todo lado, imaginar o movimento interior, transparente, desta ou daquela pessoa. Instalava-se cuidadosamente dentro do interlocutor como numa poltrona, de modo que os cotovelos dos outros serviam de descanso para os seus, e a sua alma encaixava-se sem atrito na alma do outro, e então a iluminação do mundo mudava subitamente e durante um minuto ele era realmente Aleksandr Tchernychevskii, ou Lyubov Markovna, ou Vassiliev. Às vezes, uma excitação, como na prática de um desporto, vinha acrescentar-se à efervescência gasosa da transformação, e sentia-se lisonjeado quando uma palavra ao acaso vinha confirmar sagazmente a linha de pensamento que adivinhava no outro."

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