sábado, 31 de outubro de 2009

"A Doença Lança Nas Veias Um Insecto Negro"

"a doença lança nas veias um insecto negro
calcinado pela excessiva luz da memória
tenho repentinamente fome
não consigo mexer-me
sacudo os lençóis com os pés concentro-me
na dor que me percorre desmancho a cama
onde me ataram há quinze anos fixo o olhar
para lá das paredes e do tecto

a casa está envenenada
exala vibrações de ferrugem subterrânea
desenha-se uma porta de cânhamo à altura da boca
e um dos movimentos dos dedos fustiga
as raízes graníticas dos alicerces

a doença enumera inventaria
necessita de esvaziar completamente a memória
para que se cure o corpo
e o sonho de novo desça e construa
magníficos refúgios luminosos jardins

de mim amontoar-se-ão os ossos
escombros de veias usadas sob pesadas chuvas
comigo morrerão os rumores de deus e das madeiras
o arrumo cauteloso dos livros o segredo
das fechaduras e dos envelhecidos espelhos
que gemem à passagem dos mortos
e das sombras"

Sem comentários:

Enviar um comentário

Apontamento