terça-feira, 13 de outubro de 2009

Atrasei-me prà vida!; como quando me atrasei para a morte do meu avô... Por teimosia. Dizemos tantas vezes não nos nossos diálogos quotidianos que a negação acaba por tornar-se num modo de existir (contra o mundo, contra aquilo que é a nossa essência). Não, isto não é uma dissertação acerca da essência do homem ou do sentido da existência humana. Isto é o derradeiro grito de quem nunca se deixou berrar, por teimosia, por pseudo-controlo.
Vamos à consulta de psicoterapia psicanalítica falar mal dos nossos pais e saímos de lá com a culpa acrescida. Fazemos exames médicos pensando sempre que não vamos ter nada, só para confirmar que tudo vai bem. Marcamos consultas de especialidade na esperança de estarmos a ser hipocondríacos. Perdemos pessoas, perdemos desejos, apagam-se luzes todos os dias dentro nós. Deixamos permanentemente de acreditar na possibilidade de um dia podermos vir a acreditar em alguém.
Mas ainda tenho tempo, pensamos. Ainda não me esgotei. Então cai-nos a realidade em cima, com suspeições acerca da possibilidade de o corpo, este corpo arrastado ao longo de cerca de duas décadas, estar a destruir-se a si próprio. Sentimo-nos cansados de tudo, respirar é um tormento, então vamos dormir. E lá estão as insónias a espreitar. Levantamo-nos, não conseguimos ler, escrevemos mal e porcamente, pensar é esgotante e, ao mesmo tempo, não somos capazes de parar o pensamento. Depois de umas horas deprimentes lá nos deitamos outra vez, temos pesadelos, acordamos com a boca amarga e sabemos como vai ser o dia. Desejamos então que algo aconteça: uma bomba, uma catástrofe natural, uma estalada, qualquer coisa serve... O tédio é insuportável, o vazio vence. E um dia arrependemo-nos de ter desejado maldades que podem, de facto, acontecer (a nós próprios).
E chego à conclusão que cagar é o único prazer que resta.

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