sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"Diário"

"(...) o tempo e o afastamento degradaram nas memórias enfrentadas a natureza e significação dos factos evocados. Onde o meu interlocutor dizia preto, dizia eu branco; onde eu dizia amarelo, dizia ele vermelho.
Fernando Pessoa, depois de ter ouvido da boca dos protagonistas duas descrições diferentes do mesmo acontecimento, feitas com critérios idênticos, fala da confusão que lhe fez aquela «existência dupla da verdade». Assim nos sucedeu, também. Contávamos, e pasmávamos ambos das mútuas versões que ouvíamos de cada sucesso. Não havia sincronização possível no diálogo. (...) Sem o parecer, quanto mais divergíamos no relato dos episódios, mais longe íamos ficando um do outro. Éramos dois cronistas antagónicos e obstinados de determinadas aventuras, e não dois sentimentais associados a elas. E dois desconhecidos, quando à despedida nos abraçámos."

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