«Mesmo que alguém fosse capaz de expressar tudo "o que está no seu interior", não o conseguiríamos compreender.»
domingo, 26 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
"A Sonata De Kreutzer"
"Sentia que a minha fúria era enorme, que devia estar assustador, e isso agradava-me. Com o braço esquerdo acotovelei-a com toda a força, em cheio na cara. Soltou um grito e largou-me o braço. Já ia persegui-lo, a ele, mas lembrei-me de que seria ridículo correr descalço atrás do amante da minha mulher, e eu não queria ser ridículo, queria ser pavoroso."
"A Sonata De Kreutzer"
"A música faz-me esquecer de mim próprio, da minha verdadeira situação, transporta-me para outro espaço qualquer que não é o meu: a música parece que me faz sentir o que na verdade não sinto, que me faz compreender o que não compreendo, parece que, com a música, posso fazer o que na verdade não posso. (...)
A música transfere-me de imediato para o estado de espírito do músico quando a compôs. Fundo-me na alma dele e, juntamente com ele, transporto-me de um estado para o outro, mas não sei por que o faço."
"A Sonata De Kreutzer"
"A cidade é melhor para as pessoas infelizes. Na cidade, uma pessoa pode viver cem anos e não reparar que já morreu há muito e apodreceu. Não temos tempo de pensar em nós, estamos totalmente ocupados. Negócios, relações públicas, saúde, artes, saúde e educação das crianças, receber as visitas destes e daqueles, visitar outros, é preciso ver a actriz tal, ouvir o cantor ou a cantora tal. (...) e no entanto a vida é vazia, vazia."
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
"A Sonata De Kreutzer"
"Emancipa-se a mulher nos cursos superiores e nas instituições públicas, mas olha-se para ela como um instrumento de prazer. (...)
O liceu e os cursos superiores não podem mudar esta situação. Apenas poderá mudá-la a alteração da atitude dos homens para com as mulheres e da atitude das mulheres para consigo próprias."
domingo, 19 de fevereiro de 2012
"A Sonata De Kreutzer"
"Trata-se do que me aconteceu, a mim, e também a noventa e nove por cento dos homens (...); trata-se de uma coisa terrível: não perdi a inocência por ter cedido à sedução natural de uma certa mulher. Não, não me seduziu mulher nenhuma, apenas caí porque o meio que me rodeava via naquela queda ou um acto legal e benéfico para a saúde, na opinião de alguns, ou o mais natural divertimento de um jovem, não só perdoável mas até inocente. Eu nem sequer me apercebia de que havia ali uma queda, e comecei simplesmente a entregar-me àquela coisa que é em parte prazer, em parte necessidade, como me foi sugerido, numa determinada idade; comecei a entregar-me então a essa depravação, tal como comecei a beber e a fumar. Mesmo assim, naquela primeira queda havia algo de especial e comovedor. Lembro-me de que, logo a seguir, naquele mesmo quarto, senti uma grande tristeza, tão grande que me apetecia chorar, chorar a minha inocência perdida, a minha atitude para com a mulher irreparavelmente estragada. (...) Tornei-me no que se chama um devasso. Ora, ser devasso é um estado físico, semelhante ao do morfinómano, do alcoólico, do fumador. Tal como o morfinómano, o alcoólico e o fumador não são pessoas normais, um homem que conheceu sexualmente várias mulheres para seu prazer deixa de ser normal para se tornar um homem estragado para sempre, o devasso. (...) O devasso pode abster-se, pode lutar; mas jamais terá uma atitude simples, clara, pura... fraterna para com as mulheres. (...) fiquei assim para sempre, e foi isso que me levou à perdição."
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
"Alice Do Outro Lado Do Espelho"
"Numa tarde branda de Julho,
Desliza um barco calmamente
Sob o céu resplandecente.
E esta história é a minha oferta
Às três crianças de antigamente,
Escutando de ouvidos alerta.
Julho congelou com o frio do Outono!
Há muito que o céu se toldou
e que o eco da memória se calou.
Todavia, Alice, de passos incertos,
Vagueia ainda nos campos desertos
Nunca vista por olhos despertos.
E eu hei-de continuar a contar
A todas as crianças que virão
A história desse outro Verão.
Crianças do País das Maravilhas,
Que levam os dias sonhando.
Que passam os dias cantando.
Deslizando pela memória
Do seu passado risonho,
Que é a vida, senão sonho?"
"Alice Do Outro Lado Do Espelho"
"Minha criança tão pura e querida
Com os teus olhos voltados para o céu!
Embora o tempo seja breve, e tu e eu
Apartados estejamos por meia vida,
Com o teu sorriso aceitarás certamente
Este conto de fadas de presente.
Nunca mais vi o teu olhar radiante,
Nem ouvi o teu sorriso cristalino.
E sei que será teu destino
Esqueceres-te de mim doravante.
Basta-me agora que queiras receber
O conto de fadas que te venho oferecer.
Um conto de tempos que já lá vão,
Quando brilhavam os dias de Verão.
Um canto singelo, para acompanhar
O ritmo do nosso remar
Cujos ecos perduram na lembrança,
Porquanto o olvido queira vingança.
Anda, escuta, antes que o pavor,
Com sua voz diabólica,
Force ao sono opressor
Uma donzela melancólica!
Somos velhos que gostam de brincar
E temem a hora de ir deitar.
Lá fora, o gelo e a neve impiedosos,
E a raiva dos ventos furiosos.
Cá dentro, o fogo que nos olhos dança
E a felicidade de criança.
Que te livre, assim, este conto terno
Da dura prisão do Inverno.
E, ainda que brisas sombrias
Perpassem pela memória
Da saudade dos nossos dias,
Dos nossos tempos de glória,
Não hão-de trespassar de agonia
O prazer da nossa história."
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Prefácio de "Jacques O Fatalista"
"Trata-se de amar as palavras naquilo que elas têm de desajustamento em relação à realidade, e de compreender que essa realidade se transforma à medida que nós usamos as palavras em configurações diferentes. Trata-se de perceber que as palavras não servem apenas para referenciar a realidade, mas também, e sobretudo, para gerir distâncias (é essa a verdadeira definição da retórica) e para aproximar ou afastar as pessoas."
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