terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"Noites Brancas"

"E não pense que exagerei ao contar-lhe a minha vida, por amor de Deus não o pense, Nástenka, porque é verdade que às vezes tenho momentos de uma amargura insuportável, insuportável... Nesses momentos ponho-me a imaginar que nunca serei capaz de começar a ter uma vida verdadeira, porque são momentos em que perco o tacto e o olfacto do verdadeiro, do real; porque chego a amaldiçoar-me a mim próprio; porque, depois das minhas noites fantásticas, vêm os horríveis minutos do desembriagamento! Entretanto, ouço como marulha e gira no turbilhão da vida a multidão humana, ouço, vejo como vivem as pessoas - vivem na realidade; vejo que para elas a vida não é proibida, que a vida delas não se vai desvanecer como um sonho, como uma visão, que a vida delas é eternamente renovada, sempre jovem, e nenhuma hora da vida delas se parece com outra hora; ao passo que é tristonha e monótona até à vulgaridade a tímida fantasia, escrava da sombra, escrava da ideia, escrava de uma qualquer nuvem tapando subitamente o sol e apertando de mágoa o coração (...)."

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