Faz madeixas brancas no cabelo e apara a barba como dita a moda da ocasião, para ser estiloso.
Pequenito e de pernas arqueadas, que acentua com skinny jeans e botins a imitar cabedal, cumprimenta toda a gente como se estivesse a espalhar charme e felicidade, mas na verdade é oco. Deve ter visto um coach grisalho no Youtube a ensinar gestão e autoconfiança e introjectou aquilo a sangue frio.
Ele não sabe, mas eu sei, que faz tudo por tudo para que não se descubra (incluindo o próprio) que é um impostor.
Acha que os índices de bem estar de uma organização sobem se sorrir e perguntar todos os dias como estão a correr as coisas.
Por falar em correr, é visto a correr pela cidade, sua e esforça-se como um campeão. Se tivesse esta tesão para perceber o funcionamento dos projectos que “coordena”, ler leis e documentos essenciais que implicam directamente o seu trabalho e quisesse mesmo saber o que é o bem estar, talvez um dia trabalhasse realmente.
Fala em chavões, dá a ideia de ter aprendido umas palavras essenciais há uns anos atrás com alguém mais velho, talvez um mentor, como por exemplo: sustentável, colaboração, plano de cooperação, estreita parceria, desenvolvimento conjunto de acções. Só que ele fala e observas que não deve nem saber como consultar o dicionário para apreender os significados. Tem a argúcia intelectual de uma ervilha.
Nunca se inibe de falar, aceita todos os convites e quando não há convite partilha igualmente as suas epifanias com outrem. Para ele, isto é a solidariedade!
Acho incrível aquela autoconfiança toda, mesmo quando diz disparates. Mas assim descobrimos que quando se faz tudo com confiança, passa-se por entre os pingos da chuva. Aprendi muito com ele, mas confesso que não tenho lata para seguir o modelo.
Fala de tudo como se soubesse, se alguém o interromper para corrigir sorri e finge preocupar-se, mas num momento seguinte pode repetir o mesmo disparate, só que desta vez com um ar que é um misto de virgem colegial com barão solene. Não é fácil explicar-vos caracteres que se traem a si mesmos em cada gesto. Mas tentei.
Não tenho nada contra nem a favor do personagem. Mas desconfio que nunca trabalhou um único dia, ganha o seu e ninguém o chateia. Tiro-lhe o chapéu!
19-09-2020
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