Dei comigo a pensar naquilo que
estava a fazer (física e mecanicamente) naquele preciso instante, ia tombando
com essa ideia do que fazia realmente. Recordei todos as inquietações,
propósitos e sonhos de outrora, tudo quanto me tinha movido, aquilo que me
tinha possibilitado uma continuação vivida entre o fim da adolescência e a idade adulta. Na verdade nunca
me esqueci realmente, apenas procuro afundar dia a dia essas certezas todas de
outrora, pois a realidade de hoje é, de facto, o maior teste à minha capacidade
de aguentar o tédio, de sempre…
Por vezes, quando abro um livro
intelectualmente muito estimulante, sinto uma certa revolta, por que esse
simples abrir do livro deixou de ser parte integrante do meu viver diário, já
não pode ser o principal. Agora o principal é produzir um determinado número
num qualquer trabalho idiota de uma qualquer entidade desprovida de tesão. E
este dia-a-dia é cancro, faz cancro, sinto-me a apodrecer por dentro da
minha mente. A sociedade está a acabar com o meu intelecto, a minha libido, o meu
amor pelas humanidades, artes e ciências. Pois agora apenas me cabe contar,
seleccionar, informar, empilhar papéis, construir dossiers e nunca, mas nunca
pensar, evitar ao máximo pensar, apenas executar e produzir números desconexos
que nada explicitam da realidade. E mais uma vez, surge a mesma pergunta de
sempre: o que é a realidade? O raio da
realidade!
Na infância não podemos ser nós
próprios devido às imposições e interditos expressos pelos nossos pais e avós. Durante a
adolescência não podemos ser nós próprios devido aos limites impostos pela
comunidade e sociedade como um todo. Por fim, chegamos esperançosos à idade adulta... Mas também não vamos
poder ser nós próprios...
tenho 10 anos disso. de trabalho que mata. é triste :(
ResponderEliminarTalves "o amanhã" seja melhor...
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