sábado, 26 de fevereiro de 2011

"Os Paraísos Artificiais"

"Os sentimentos que repelira durante o caminho, com toda a pobre energia de que podia dispor, irromperam, e abandonei-me livremente ao meu mudo frenesi. O frio continuava a aumentar e, contudo, via pessoas levemente vestidas, ou mesmo enxugando a testa com ar de fadiga. Acudiu-me a ideia regozijante de que eu era um homem privilegiado, o único a quem era concedido o direito de ter frio de Verão, numa sala de espectáculos. O frio aumentava ao ponto de se tornar alarmante; mas acima de tudo eu estava dominado pela curiosidade de ver a que grau poderia ele descer. Por fim, chegou a tal ponto, foi tão completo, tão geral, que todas as minhas ideias se congelaram, por assim dizer; era um bocado de gelo pensante; considerava-me como uma estátua esculpida num só bloco de gelo; e esta louca alucinação causava-me orgulho, excitava em mim um bem-estar moral que não poderei definir."

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