quinta-feira, 28 de julho de 2011

Numa Carta Ao Irmão Miguel

"Olho agora cada vez com mais indiferença para o que me rodeia. A minha única ambição é conseguir a liberdade. Estou pronto a sacrificar tudo pela liberdade. Confesso-te, no entanto, que se tem de possuir uma enorme fé no futuro e um sentido intenso das nossas capacidades para persistir nos sonhos. Mas que importa? Venham ou não a tornar-se realidades, cumprirei o que prometi a mim mesmo. Tenho evoluído no estudo da essência do homem e da vida. Sinto-me confiante. O homem é um mistério que deve ser decifrado, e mesmo que a isso consagres toda a tua vida, nunca poderás dizer que desperdiçaste o tempo. Solucionar esse mistério é o meu ofício, pois quero ser um homem."

domingo, 5 de junho de 2011

"Sobre A Liberdade"

"Uma pessoa não pode correctamente ser forçada a fazer ou a deixar de fazer algo porque será melhor para ela que o faça, porque a fará feliz, ou porque, na opinião de outros, fazê-lo seria sensato, ou até correcto. Estas são boas razões para a criticar, para debater com ela, para a persuadir, ou para a exortar, mas não para a forçar, ou para lhe causar algum mal caso ela aja de outro modo. Para justificar tal coisa, é necessário que se preveja que a conduta de que se deseja demovê-la cause um mal a outra pessoa. A única parte da conduta de qualquer pessoa pela qual ela responde perante a sociedade, é a que diz respeito aos outros. Na parte da sua conduta que apenas diz respeito a si, a sua independência é, por direito, absoluta. Sobre si, sobre o seu próprio corpo e a sua própria mente, o indivíduo é soberano."

"Sobre A Liberdade"

"Sempre que há uma classe dominante, a moralidade do país resulta, em grande parte, dos interesses e do sentimento de superioridade desta classe."

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Totem E Tabu"

"A análise psicanalítica do indivíduo revela que a imagem de Deus é criada por cada indivíduo a partir do seu pai, que a relação pessoal com Deus, depende da sua relação com o pai de carne e osso, varia e transforma-se de acordo com ela e que Deus, afinal, não é mais que um pai glorificado."

sexta-feira, 18 de março de 2011

"Os Paraísos Artificiais"

"(...) já não se trata de luta nem de revolta. A luta e a revolta implicam sempre uma certa quantidade de esperança, ao passo que o desespero é mudo. Onde não há remédio, os maiores sofrimentos resignam-se. As portas, antes abertas para o regresso, fecharam-se, e o homem marcha com docidade para o seu destino."

sábado, 26 de fevereiro de 2011

"Os Paraísos Artificiais"

"(...) é uma beatitude calma e imóvel, uma resignação gloriosa. Deixámos de ser há muito senhores de nós próprios, mas não nos afligimos. A dor e a ideia do tempo desaparecem, ou se algumas vezes ousam manifestar-se, são transfiguradas pela sensação dominante e são, então, relativamente à sua forma habitual, o que a melancolia poética é em relação à dor positiva."

"Os Paraísos Artificiais"

"Acontece algumas vezes que a personalidade desaparece e que a objectividade, que é própria dos poetas pateístas, se desenvolve em vós tão anormalmente, que a contemplação dos objectos exteriores vos faz esquecer a vossa própria existência, não tardando a confundir-vos com eles. Os vossos olhos fixam-se numa árvore harmoniosa dobrada pelo vento: em alguns segundos, o que no cérebro de um poeta não seria mais do que uma comparação muito natural, tornar-se-á no vosso uma realidade. Começais por atribuir à árvore as vossas paixões, o vosso desejo ou a vossa melancolia; os seus gemidos e as suas oscilações tornam-se vossos, e não tarda que sejais árvore. Do mesmo modo, a ave que plana no fundo do céu azul começa por representar o imortal desejo de planar sobre as coisas humanas; mas logo sois a própria ave. Suponho-vos sentado a fumar. A vossa atenção descansará em demasia nas nuvens azuladas que se exalam do cachimbo. A ideia de uma evaporação lenta, sucessiva, eterna, apoderar-se-á do vosso espírito, e não tarda que apliqueis esta ideia aos vossos próprios pensamentos, à vossa matéria pensante."

"Os Paraísos Artificiais"

"Os sentimentos que repelira durante o caminho, com toda a pobre energia de que podia dispor, irromperam, e abandonei-me livremente ao meu mudo frenesi. O frio continuava a aumentar e, contudo, via pessoas levemente vestidas, ou mesmo enxugando a testa com ar de fadiga. Acudiu-me a ideia regozijante de que eu era um homem privilegiado, o único a quem era concedido o direito de ter frio de Verão, numa sala de espectáculos. O frio aumentava ao ponto de se tornar alarmante; mas acima de tudo eu estava dominado pela curiosidade de ver a que grau poderia ele descer. Por fim, chegou a tal ponto, foi tão completo, tão geral, que todas as minhas ideias se congelaram, por assim dizer; era um bocado de gelo pensante; considerava-me como uma estátua esculpida num só bloco de gelo; e esta louca alucinação causava-me orgulho, excitava em mim um bem-estar moral que não poderei definir."

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"Os Paraísos Artificiais"

"Fui ao serão; não escandalizei ninguém. Nenhum deles adivinhou os esforços sobre-humanos que tive de fazer para me parecer com toda a gente. Mas nunca esquecerei as torturas de uma embriaguez ultra-poética, oprimida pelo decoro e contrariada por um dever!"

"Os Paraísos Artificiais"

"Que as pessoas de sociedade e os ignorantes, curiosos de conhecerem gozos excepcionais, saibam bem que não encontrarão no haxixe nada de miraculoso, absolutamente nada senão o natural excessivo. O cérebro e o organismo sobre os quais o haxixe opera não darão mais que os seus fenómenos ordinários, individuais, aumentados, é certo, quanto ao número e à energia, mas sempre fiéis à origem. O homem não fugirá à fatalidade do seu temperamento físico e moral: o haxixe será, para as impressões e para os pensamentos familiares do homem, um espelho de aumentar, mas um puro espelho."

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Os Paraísos Artificiais"

"(...) tal como de uma droga perigosa, o ser humano goza do privilégio de poder tirar prazeres novos e subtis mesmo da dor, da catástrofe e da fatalidade."

"Os Paraísos Artificiais"

"Diz-nos o bom senso que as coisas da terra pouca existência têm, e que a verdadeira realidade está apenas nos sonhos."

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Ensinaram-me A Ler O Mundo À Minha Volta"

"Homens capazes de Amor são aqueles que foram crianças ou que se reconciliaram com a criança que foram.
Se amas a criança que em ti existe, então podes amar as crianças.
Podes fazer um filho.
Se a rejeitaste ou se com ela és irreconciliável então só podes gostar de bonecos de pasta, autómatos de lata e bugigangas para enfeitar o teu espaço esvaziado. Compra-os na loja, não faças filhos.

Não te ocupes dos filhos dos outros.”

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Os Cantores"

"Olhei mais uma vez (...) e saí. Não queria ficar - tinha medo de estragar a minha impressão."

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Os Cantores"

"A pequena aldeia de Kolotovka, antigamente propriedade de uma senhora alcunhada nas vizinhanças, pelo seu feitio cruel e imparável, de Estriga (o seu verdadeiro nome ficou desconhecido), e que actualmente pertence a um alemão petersburguense, está localizada no declive de uma colina desnuda, cortada de cima a baixo por um terrível barranco que, abrindo-se como um abismo, serpenteia, aluído e corroído, no meio da rua e, pior que um rio (sobre um rio é possível, pelo menos, construir uma ponte), separa em duas partes essa aldeia pobre. Vários salgueiros frágeis descem, assustadiços, pelos seus flancos arenosos; no fundo, seco e amarelo como cobre, jazem blocos enormes de pedra argilosa. É um quadro triste, temos de admitir; no entanto, todos os habitantes vizinhos conhecem muito bem o caminho para Kolotovka: vão lá muito e de boa vontade."

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011