segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ser «Lá»

Aqui, onde me sento/sinto e estou, vou para lá do que existe. Penso o que não existe e existo assim. «Lá» é uma expressão do sítio de onde vim, em que habitei outrora. «Lá» chama-se, na verdade, princípio (alpha) e fim (beta). Possui a essência de lugar: quente, protegido, amistoso; como estar dentro de uma lareira sem o queimar do fogo. Consigo transitar de «aqui» para «lá» sempre que preciso e tenho vontade. Então, posso ficar serena e enraizada na sensação de não ser/ter nada, fluir ao ritmo do ar e confundir-me com a água da Terra toda. Ao mesmo tempo, eu sou só sentir: vejo os sons, toco nas cores, cheiro a sensação de ter as mãos vazias, ouço os olhares nas ruas desconstruídas, e saboreio todos os cinco sentidos como se fossem um só - a ideia de uno e indivisível... Sou toda a inexistência, mas fundo-me nos outros, que existem, e eles estão em mim, sempre... Por isso, não os tolero e volto a ser mar sem fim, ar leve, sem respirar quase; elevo-me até ao fim. E já me tenho só como sonho, preso no sono. Não quero acordar, não posso acordar... A Realidade do mundo e das coisas faz-me feia e tira-me o sentido. Obriga-me a Ser, esse pesadelo!

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