sábado, 13 de março de 2010

"Avenida Névski"

"Meu Deus, onde ele viera cair! No primeiro momento nem quis acreditar e pôs-se a observar com mais atenção os objectos que enchiam a sala; mas as paredes nuas e a ausência de cortinas não revelavam qualquer presença de uma dona de casa zelosa; as caras gastas destas criaturas miseráveis, uma das quais se sentou quase debaixo do seu nariz e o estudava com a mesma clama com que se observa uma nódoa num vestido alheio - tudo isso lhe deu a certeza de que entrara no cóio abominável onde se abrigava a depravação abjecta, fruto da civilização de ouropel e da terrível sobrepovoação da capital. Este abrigo, onde o homem cometia o sacrilégio de esmagar e escarnecer de tudo quanto é puro e sagrado, o que torna a vida bela; onde a mulher, essa beleza do mundo, esse cúmulo da criação, se transformava numa criatura estranha e ambígua e, juntamente com a pureza da alma, perdia a sua feminilidade e adoptava, repugnantemente, os modos e os descaramentos masculinos, deixando de ser aquela criatura frágil, bela e tão diferente de nós."

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