domingo, 28 de março de 2010

"Os Estados Depressivos"

"Uma perda temporária ou definitiva de um objecto pode provocar no indivíduo, segundo Grinberg, «o sentimento de ao mesmo tempo ter perdido algo que lhe pertence»: quanto mais um objecto possuir qualidades narcísicas, mais o luto será doloroso e penoso na medida em que perder este objecto equivale a perder uma parte do Ego. Freud apresenta esta explicação sublinhando «a ferida narcísica» e o «empobrecimento do Ego» em Luto e Melancolia."

"Os Estados Depressivos"

"O trabalho de luto é portanto um processo ao mesmo tempo normal porque lógico e patológico porque gera sofrimento. Começa pelo sobreinvestimento do objecto para acabar na desvinculação em relação a este, ficando a libido liberta do investimento no objecto perdido e podendo investir-se noutro objecto. O aparelho psíquico e a vida em geral estão de facto submetidos ao princípio da necessidade do investimento ao qual se opõe a fixação da libido num objecto que já não pode responder ao amor do sujeito."

"Panthea"

"O we are wearied of this sense of guilt,
Wearied of pleasure's paramour despair,
Wearied of every temple we have built,
Wearied of every right, unanswered prayer,
For man is weak; God sleeps: and heaven is high:
One fiery-coloured moment: one great love; and lo! we die."

("Ó, como nos cansa este peso de culpa,
Nos cansa o prazer, que ama o desespero,
Nos cansa cada templo edificado,
Nos cansa cada recta prece não escutada,
Porque é fraco o homem; Deus dorme; e o céu é alto;
Um instante cor de fogo, um grande amor, depois morremos.")

sábado, 27 de março de 2010

"O Retrato De Dorian Gray"

"Não existem livros morais ou imorais. Os livros são mal ou bem escritos. É tudo. (...) Um artista não tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável. (...) Toda a arte é perfeitamente inútil."

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Para A Introdução Ao Narcisismo"

"A relação amorosa implica portanto uma renúncia narcísica e pode, em determinadas situações, constituir uma ameaça ao narcisismo do sujeito."

segunda-feira, 22 de março de 2010

"O Magnetizador"

"A piedade é um hábito subjacente às acções piedosas e qualquer acção piedosa é uma hipocrisia, apesar de não ser cometida com a intenção de enganar o próximo, mas, antes, a de nos deleitarmos à luz dos raios brilhantes de uma auréola de ouro falso, com a ajuda da qual nos consideramos santos."

domingo, 21 de março de 2010

"O Magnetizador"

"Os dias da jovem tinham-se tornado agitados e atormentados, mas as noites eram ainda mais pavorosas. Todas as aparições funestas que a perseguiam tornavam-se ainda mais precisas e perversas. Chamava pelo seu amado com uma voz que despedaçava os corações e, soluçando incontrolavelmente, parecia querer dar o último suspiro junto do seu cadáver sangrento."

quinta-feira, 18 de março de 2010

Introdução Aos "Últimos Escritos Sobre A Filosofia Da Psicologia" de Wittgenstein

"(...) apenas o próprio pode exteriorizar o seu interior, as suas vivências, o outro pode ler o significado destas. Mas por vezes acontece que a minha crença não é por mim próprio conhecida como é conhecida por outra pessoa. Toda a terapêutica psiquiátrica ou psicanalítica que envolve paciente e terapeuta se baseia no pressuposto de que o ponto de vista externo determina a revelação de elementos do interior a que o próprio não teve acesso. (...) não põe em causa o facto de existirem critérios de evidência ou de incerteza, quer para uma pessoa (a que fala na primeira pessoa), que para outra, que observa ou descreve a primeira."

segunda-feira, 15 de março de 2010

"O Magnetizador"

"Pobre criança, conhece o teu senhor e mestre! Para quê defender-te e espernear sob este jugo de que, em vão, te tentas livrar? Sou o teu deus, que te conhece até ao mais profundo do teu ser e tudo quanto escondeste ou tentas esconder está diante dos meus olhos. Mas para que não te atrevas a duvidar do meu poder absoluto sobre ti, oh miserável verme, vou penetrar no santuário dos teus pensamentos e assim os teus sentidos poderão apreender-me totalmente."

"O Magnetizador"

"(...) todos os sonhos que eu considero importantes, porque o acaso quis que tivessem uma certa influência sobre a minha vida (na realidade chamo acaso a uma certa coincidência entre as circunstâncias que, em si mesmo, nada teriam de comum, mas que, nesse determinado momento, se manifestam sob uma forma totalmente homogénea), todos esses sonhos, digo eu, eram desagradáveis e mesmo dolorosos, de tal maneira que faziam com que eu adoecesse frequentemente, apesar de me abster de os recordar, porque naquela época ainda não era moda tentar saber tudo aquilo que a natureza, na sua infinita sabedoria, nos procura ocultar."

"O Magnetizador"

"Os sonhos são ilusão: são mera espuma (...)."

sábado, 13 de março de 2010

"Avenida Névski"

"Quatro dias se passarem e o quarto fechado nenhuma vez se abriu; ao cabo de uma semana, o quarto continuava fechado. Chamaram por ele à porta, mas não houve resposta; por fim, arrombaram-na e encontraram o seu cadáver com a garganta cortada. A lâmina ensanguentada estava no chão. Pelos braços convulsamente abertos e pela cara terrivelmente desfigurada podia concluir-se que a sua mão não fora certeira e que sofreu ainda muito antes de a sua alma pecadora lhe abandonar o corpo."

"Avenida Névski"

"Os sonhos acabaram por se tornar a vida dele e, desde então, a sua existência tomou um rumo estranho; pode dizer-se que dormia acordado e estava de vigília no sono. Se alguém o visse sentado em silêncio diante da mesa vazia, ou a andar pela rua, decerto o tomaria por um sonâmbulo, ou por um indivíduo destruído pelas bebidas fortes; o seu olhar estava privado de sentido, a sua distracção natural ampliou-se e, autoritariamente, expulsava da cara todos os sentimentos e movimentos. Apenas se animava com a chegada da noite."

"Avenida Névski"

"A mulher descerrou os lábios bonitos e falou, mas era tudo tão estúpido, tão ordinário... Era como se o intelecto abandonasse o ser humano juntamente com a castidade."

"Avenida Névski"

"Meu Deus, onde ele viera cair! No primeiro momento nem quis acreditar e pôs-se a observar com mais atenção os objectos que enchiam a sala; mas as paredes nuas e a ausência de cortinas não revelavam qualquer presença de uma dona de casa zelosa; as caras gastas destas criaturas miseráveis, uma das quais se sentou quase debaixo do seu nariz e o estudava com a mesma clama com que se observa uma nódoa num vestido alheio - tudo isso lhe deu a certeza de que entrara no cóio abominável onde se abrigava a depravação abjecta, fruto da civilização de ouropel e da terrível sobrepovoação da capital. Este abrigo, onde o homem cometia o sacrilégio de esmagar e escarnecer de tudo quanto é puro e sagrado, o que torna a vida bela; onde a mulher, essa beleza do mundo, esse cúmulo da criação, se transformava numa criatura estranha e ambígua e, juntamente com a pureza da alma, perdia a sua feminilidade e adoptava, repugnantemente, os modos e os descaramentos masculinos, deixando de ser aquela criatura frágil, bela e tão diferente de nós."

sábado, 6 de março de 2010

"O Dom"

"Adeus, meu livro! Tal como os olhos mortais, os imaginados devem cerrar-se um dia. Onegin, de joelhos, levantar-se-á, mas o seu criador afasta-se para longe. E contudo o ouvido não pode separar-se aqui mesmo da música e deixar que o conto se desvaneça; os acordes do próprio destino continuam a vibrar; e para o homem sábio não existe obstrução onde eu escrevi Fim: as sombras do meu mundo estendem-se para lá do horizonte da página, azul como as brumas de amanhã, e nem isto termina a frase."

"O Dom"

"Será esta noite que vai acontecer? Acontecerá realmente agora? O peso e a ameaça da felicidade. Quando caminho contigo como agora, tão lentamente, e te seguro pelo ombro, tudo vacila ligeiramente, e a minha cabeça zumbe, e apetece-me arrastar os pés (...)."

"O Dom"

"- Tudo isso é maravilhoso - disse Zina. - Agrada-me tremendamente. Penso que vais ser um escritor como nunca houve e que a Rússia te vai cair aos pés, quando voltar a si tarde demais... Mas tu amas-me?
- O que estou a dizer é uma espécie de declaração de amor - respondeu Fedor.
- «Uma espécie de» não chega. Sabes, acontecer-me-á sem dúvida às vezes ser terrivelmente infeliz contigo. Mas no conjunto isso não interessa, estou pronta para enfrentar tudo."

"O Dom"

"O verdadeiro escritor deve ignorar todos os leitores menos um, o do futuro, que por sua vez é meramente o autor reflectido no tempo."

"O Dom"

"Quando era pequeno, antes de dormir costumava rezar uma longa e obscura oração que a minha falecida mãe, mulher piedosa e muito infeliz, me ensinara (ela, evidentemente, teria dito que estas duas coisas são incompatíveis, mas apesar de tudo é verdade que a felicidade não toma o véu). Lembrei-me dessa oração e continuei a dizê-la durante anos, quase até à adolescência, mas assim que compreendi tudo esqueci-a imediatamente, como se tivesse quebrado um amuleto sem concerto possível. Parece-me que o mesmo poderia acontecer aos meus poemas, que se tentar racionalizá-los perderei imediatamente a capacidade de os escrever. (...) O encanto da Musa reside na pobreza dela própria."

sexta-feira, 5 de março de 2010

"O Dom"

"Observando de perto, pouco importa quão de perto, os acontecimentos da natureza, devemos, no próprio processo da observação, ter o cuidado de não deixar que a razão - esse dragomano loquaz que vai sempre à nossa frente - nos sugira explicações que começam então imperceptivelmente a influenciar o próprio curso da observação e a distorcê-lo: assim cai a sombra do instrumento sobre a verdade."

quinta-feira, 4 de março de 2010

"O Dom"

"Como é difícil virar os pensamentos: são como troncos. Sinto-me demasiado doente para morrer."

quarta-feira, 3 de março de 2010

"Por Que Escrevo Tão Bons Livros"

"Em última instância, ninguém pode extrair das coisas (livros incluídos) mais do que aquilo que já sabe. Não se tem ouvidos para aquilo a que não se tem acesso por experiência."

terça-feira, 2 de março de 2010

"O Jogador"

"Fique sabendo, também, que é perigoso passearmos juntos; assalta-me, muitas vezes, um desejo irreprimível de lhe bater, de a desfigurar, de a estrangular. Pensa que as coisas não hão-de chegar a esse ponto? Põe-me fora de mim. Julga que teria medo do escândalo? Do seu ódio? Dou ao desprezo o seu ódio! Amo-a sem esperança e sei que depois disso a amarei mil vezes mais. Se a matar, um dia, terei de matar-me também."

"O Jogador"

"Sabe que um dia hei-de matá-la? Não por ciúme, não por deixar de a amar; não, hei-de matá-la só porque há dias em que me apetece devorá-la."

"O Jogador"

"Ignoro por que a amo e como a amo. Sabe, talvez não seja mesmo nada bela. Imagine que nem sei se é bela ou não, até de rosto. O seu coração é mau, com certeza, e os meus sentimentos não são muito nobres."