quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Compulsão Para a Repetição

"Temos assim o exemplo de indivíduos cujas relações com terceiros conhecem sempre o mesmo desfecho: benfeitores que, passado algum tempo, são abandonados pelos seus protegidos, por diferentes que estes sejam entre si, e que parecem assim destinados a provar toda a amargura da ingratidão e do rancor; homens cujas amizades terminam invariavelmente quando se vêem traídos pelo amigo; outros que repetidas vezes ao longo das suas vidas elevam alguém a autoridade máxima para si próprios ou para a esfera pública, autoridade esta que algum tempo depois eles próprios depõem e substituem por uma outra; homens apaixonados cujas relações amorosas com mulheres conhecem sempre as mesmas fases e conduzem sempre ao mesmo desenlace, e assim por diante. Este «eterno retorno do idêntico» não nos surpreende quando se trata do comportamento activo do indivíduo e quando detectamos um traço da sua personalidade que permanece constante e que forçosamente se exprimirá através da repetição das mesmas vivências. Bastante mais portentosos são os casos de pessoas que parecem viver passivamente certos acontecimentos, cujo curso não podem influenciar, e que ainda assim se deparam com a repetição do mesmo destino. Pense-se na história daquela mulher que se casou três vezes com homens que pouco depois adoeceram e de que ela cuidou até que morressem.
(...) ousamos avançar uma hipótese da existência de uma compulsão para a repetição na vida mental, compulsão esta que se sobrepõe ao princípio do prazer."

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