teu tempo chegou à sua metade, olharás para a frente,
sem saber se o que vês é sonho
ou realidade. Assim me aconteceu,
e nesse lugar obscuro, em que os instantes se erguiam
feita de ponteiros que rodavam na cabeça, sem que os
pensamentos ásperos como feras de que me quis
antigos, as doces ilusões de quem acredita, ainda, que
deste bosque tão obscuro como o destino que perdi,
que sou presença viva, também, agora que o sol se
«Segue-me», disse, «e abandona as tuas esperanças,
quem te fez sonhar, ou esse corpo que um dia
Assim o poeta me obrigou a abandonar quem fui, e
desses que esqueci vinham ao meu encontro, num
ou realidade. Assim me aconteceu,
e nesse lugar obscuro, em que os instantes se erguiam
como troncos de uma floresta
feita de ponteiros que rodavam na cabeça, sem que os
pudesse deter, os pensamentos empurravam-me para
longe de mim. Ah,
pensamentos ásperos como feras de que me quis
libertar, correndo à sua frente
até perder a memória do que vivi: amores
até perder a memória do que vivi: amores
antigos, as doces ilusões de quem acredita, ainda, que
a vida é fértil como um campo de ilusória eternidade.
Agora, nos confins
deste bosque tão obscuro como o destino que perdi,
uma sombra se ergue, de costas para mim, como se
não adivinhasse
que sou presença viva, também, agora que o sol se
ergue, iluminando o rosto desse guardião dos que
perderam o seu rumo.
«Segue-me», disse, «e abandona as tuas esperanças,
como despojos inúteis para
a tua caminhada. Esquece quem abraçaste,
a tua caminhada. Esquece quem abraçaste,
quem te fez sonhar, ou esse corpo que um dia
desejaste, sem nunca o abraçar; e traz contigo os
versos em que o cantaste.»
Assim o poeta me obrigou a abandonar quem fui, e
com ele encontrei essa porta que nunca pensei
transpor, vendo como as almas
desses que esqueci vinham ao meu encontro, num
vento de imagens, e me abriam os olhos para um rio
sem fim, sem fonte nem estuário."
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