quinta-feira, 6 de outubro de 2022

“A Peste”

“Depois de um silêncio, o médico soergueu-se um pouco e perguntou-lhe se tinha alguma ideia acerca do caminho que era preciso seguir para se chegar à paz.
- Tenho. A simpatia.
Duas campainhas de ambulância ressoaram ao longe. (...) Depois o silêncio voltou. Rieux contou duas rotações do farol. A brisa pareceu ganhar mais força e, ao mesmo tempo, um sopro vindo do mar trouxe um cheiro a sal. Ouvia-se agora distintamente a surda respiração das vagas contra a falésia.
- Em suma - disse Tarrou com simplicidade -, o que me interessa é saber como se pode ser santo.
- Mas você não acredita em Deus.
- Justamente. Pode ser-se santo sem Deus? Eis o único problema que hoje me preocupa.
(...)
(...) respondeu o médico -,mas, sabe, eu sinto mais solidariedade com os vencidos do que com os santos. Creio que não tenho gosto pelo heroísmo e pela santidade. O que me interessa é ser um homem.”

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