sábado, 25 de dezembro de 2010

Às Memórias Da Minha Infância

A minha avó prostrava-se e rastejava, encolhida, pelo chão. De mãos juntas pedia perdão a todos. Eu, pequena, olhava-a e não entendia a razão: achava-a santa, sem coisas más, sem maldade. Ela, desesperada, continuava expiando os seus queridos pecados. Eu ficava triste, como ela, e só sabia sentir que nada podia fazer, que nenhuma alegria lhe podia conceder. Não entendo por que razão ninguém me arrancou dali, levando-me embora. Estas suas ausências passaram a fazer parte da minha presença perto dela, que era diária. Durante essas ausências eu ficava vazia do amor dela e morria um bocadinho.
O meu avô chegava a casa do trabalho, para o almoço, e atirava com o prato, descontente com a comida que ela tinha preparado com carinho. A comida era deliciosa, mas a relação deles era odiosa. Nesses momentos de ira massiva ninguém dizia nada, pairava um silêncio parecido com o dos cemitérios (quando não há por lá funerais: pois é! por estranho que pareça não há nada mais barulhento que um enterro; choram aos gritos, revêem-se familiares desconhecidos, come-se bastante e contam-se anedotas). Depois ele voltava para o trabalho e as coisas normalizavam, a não ser que se desse mais uma ausência acamada da minha avó.
Lembro-me de outras coisas, mas não consigo articulá-las em forma de escrita, de qualquer forma já fiz a catarse, retiro-me agora.

2 comentários:

  1. Que triste...
    O teu blog é muito bonito, parabéns.

    ass: mulher insignificante que encontrou o teu blog por acaso.

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