quinta-feira, 10 de junho de 2010

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"Se o pai está abatido, resignado, cego ou inconsciente do verdadeiro drama que se desenrola, a mãe está a maior parte das vezes terrivelmente lúcida. Feita para dar a vida, ela é de tal modo sensível a qualquer atentado à vida que saiu dela que pode também sentir-se senhora da morte quando o ser que trouxe ao mundo lhe retribui toda a projecção humana impossível.
Porquê? Porque, digamo-lo desde já, a enfermidade dum filho atinge a mãe num plano narcísico: dá-se uma perda brusca de toda a marca de identificação que implica, como corolário, a possibilidade de comportamentos impulsivos. Trata-se dum pânico diante duma imagem do «eu» que jamais poderá ser reconhecida ou amada.
A relação de amor mãe-filho terá sempre, neste caso, um ressaibo de morte, de morte negada, disfarçada a maior parte das vezes em amor sublime, algumas vezes em indiferença patológica, outras vezes em recusa consciente; mas as ideias de homicídio existem, mesmo que nem todas as mães possam tomar consciência disso."

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