domingo, 20 de junho de 2010

"A Civilização E Os Seus Descontentamentos"

"O mandamento de amarmos o nosso próximo como a nós próprios é a defesa mais forte que existe contra a agressividade humana e é um exemplo superlativo de uma atitude psicológica do superego cultural."

"A Civilização E Os Seus Descontentamentos"

"O objectivo para o qual o princípio do prazer nos impele - o de nos tornarmos felizes - não é atingível; contudo, não podemos - ou melhor, não temos o direito - de desistir do esforço da sua realização de uma maneira ou de outra. Caminhos muito diferentes podem ser seguidos para isso; alguns dedicam-se ao aspecto positivo do objectivo, o atingir o prazer; outros o negativo, o evitar da dor. Por nenhum destes caminhos conseguimos atingir tudo o que desejamos."

"A Civilização E Os Seus Descontentamentos"

"(...) um sentimento só poderá ser fonte de energia se ele próprio for a expressão de uma necessidade intensa. A necessidade de religião ter origem no sentimento de abandono da criança e no anseio que suscita pelo pai, parece-me incontestável, principalmente porque este sentimento não é simplesmente trazido dos dias da infância, mas mantido permanentemente vivo pelo medo do poder superior do destino."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

"Livro Do Desassossego"

"Dormimos ali acordados dias, contentes de não ser nada, de não ter desejos nem esperanças, de nos termos esquecido da cor dos amores e do sabor dos ódios. Julgávamo-nos imortais...
Ali vivemos horas cheias de um outro sentirmo-las, horas de uma imperfeição vazia e tão perfeitas por isso, tão diagonais à certeza rectângula da vida... (...)
E doía-nos gozar aquilo, doía-nos... Porque, apesar do que tinha de exílio calmo, toda essa paisagem nos sabia a sermos deste mundo, toda ela era húmida da pompa de um vago tédio, triste e enorme e perverso como a decadência de um império ignoto..."

"Livro Do Desassossego"

"Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho."

terça-feira, 15 de junho de 2010

"Nadja"

"Tu, a mais viva das criaturas, que pareces ter surgido no meu caminho só para que eu sentisse em todo o seu rigor a força do que tu não sentes."

segunda-feira, 14 de junho de 2010

"Nadja"

"Mas na minha opinião todos os internamentos são arbitrários. Continuo a não ver por que razão se há-de privar um ser humano de liberdade. Encerraram Sade; fecharam Nietzsche; prenderam Baudelaire."

"Nadja"

"(...) no mundo de Nadja tudo tomava rapidamente a aparência da assunção e da queda."

"Nadja"

"Há muito tempo que eu tinha deixado de me entender com Nadja. Em boa verdade, talvez nunca nos tivéssemos entendido, pelo menos na maneira de considerar as coisas simples da existência."

"Nadja"

«És o meu senhor. Não passo de um átomo que respira, ou expira, ao canto da tua boca. Quero palpar a serenidade de um dedo molhado de lágrimas.»

"Nadja"

«O fim da minha respiração é o começo da tua.»

"Nadja"

"Do primeiro ao último dia, sempre vi em Nadja um génio livre, algo assim como um desses espíritos do ar que certas práticas de magia permitem momentaneamente atrair, mas impossíveis de submeter."

sábado, 12 de junho de 2010

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"No caso da debilidade mental, a inteligência deficiente vai ocupar a mãe ao ponto que, diante dos outros, a insuficiência do filho será sempre objectivada por ela. (É nele que qualquer coisa falta e, enquanto a mãe está persuadida disso, a doença do filho vai dissimular a doença materna)."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"(...) debilidade e psicose confundem-se - e é por esta razão que importa, na conduta do tratamento, receber ao mesmo tempo a mensagem do filho e dos pais: é antes mesmo do nascimento do filho que existe o clima que favorece a eclosão psicótica. Desde a concepção, o indivíduo representa para a mãe um papel muito preciso no plano fantasmagórico; o seu destino já está traçado; será esse objecto sem desejos próprios, cujo único papel será preencher o vazio materno."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"(...) a criança é tributária da saúde dos pais, (...) ela participa, sem eles o saberem, nas dificuldades que eles próprios não conseguem superar."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"A psicanálise freudiana caracteriza-se pela importância dada ao «desejo» na constituição do indivíduo e do objecto. J. Lacan faz notar que o desejo distingue-se da «necessidade» e do «pedido». O desejo aparece esvaziado, como uma incapacidade do ser, que subsiste como insuficiência, mesmo que a necessidade e o pedido tenham sido satisfeitos. A satisfação da necessidade apresenta-se então como um logro. A mãe, lograda na perspectiva da necessidade e do pedido, julga-se escapar aos problemas do desejo, enfartando o filho «com a atmosfera sufocante do que ele tem», esquecendo «o que ele não tem» e «confundindo os seus cuidados com o dom do seu amor».
O pedido (que é a articulação da necessidade e que corresponde mesmo ao nascimento da linguagem) está assim no ponto da relação do filho com a mãe e das vicissitudes desta relação."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"Um corpo (...) nunca é um corpo, mas bocados que se entendem ou não entendem."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"(...) a criança atrasada e a mãe formam, em certos momentos, um só corpo, confundindo-se tanto o desejo de um com o do outro que os dois parecem viver uma só e mesma história."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"É no inconsciente dos pais que muitas vezes é preciso procurar o inconsciente da criança para poder com eles fazer um certo trabalho que torne possível a cura da criança. Equivale isto a criar uma situação em que se torne enfim concebível que a verdade escondida por detrás dos sintomas seja assumida pelo indivíduo. (...) a criança é neste caso o penhor vivo duma mentira ao nível do casal."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"A situação «a dois» provoca por vezes na mãe tais satisfações que a evolução do filho chega a ser sentida por ela como uma perda de objecto, como se a criança deixasse uma parte do corpo materno. Não são raros os mecanismos de luto patológico nestes momentos em que surge a esperança de melhoras do filho. Certa mãe procurou uma clínica para débeis no dia em que recebeu a confirmação de que o filho se encontrava recuperado no plano intelectual: só a intervenção do pai pôde evitar a recaída do filho que, de facto, convinha à mãe."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"(...) a mãe em caso algum confia o filho a outra pessoa, a não ser para provar a si mesma e aos outros que ninguém, além dela, é capaz de fazer face à situação."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"Ora, por detrás da máscara da debilidade, dissimula-se por vezes uma evolução psicótica ou perversa. Noutros casos trata-se de um equivalente psicossomático do qual o doente se apodera."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"Foi deitada no divã analítico que a criança pronunciou estas palavras. (...) houve atitudes regressivas, quase fatais, duma criança dobrada sobre si mesma, que dizia raivosamente: «Eu não nasci». (...) «Eu sofro de tal modo, dizia-me a criança, que, por causa disso, vou perder o coração do meu coração»."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"(...) a inteligência não é um puro factor quantitativo nem mesmo equivale a uma adaptação; mas sim um instrumento ao serviço de fins que podem escapar-nos. Em Nicolau, a falta de inteligência permitia o esquecimento e a ausência de revolta."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"Os males de fígado, de estômago, de que, numa consulta pediátrica, uma mãe se queixa, por vezes não são mais do que uma manifestação de angústia (da mãe ou do filho) traduzida nessa linguagem sem palavras que é a doença. (...) nalguns casos o perigo de morte em que se encontra uma criança reside principalmente na incapacidade de suportar sozinha um peso de angústia demasiado grande."

quinta-feira, 10 de junho de 2010

"Nadja"

"A vida é muito diferente daquilo que se escreve."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"Se o pai está abatido, resignado, cego ou inconsciente do verdadeiro drama que se desenrola, a mãe está a maior parte das vezes terrivelmente lúcida. Feita para dar a vida, ela é de tal modo sensível a qualquer atentado à vida que saiu dela que pode também sentir-se senhora da morte quando o ser que trouxe ao mundo lhe retribui toda a projecção humana impossível.
Porquê? Porque, digamo-lo desde já, a enfermidade dum filho atinge a mãe num plano narcísico: dá-se uma perda brusca de toda a marca de identificação que implica, como corolário, a possibilidade de comportamentos impulsivos. Trata-se dum pânico diante duma imagem do «eu» que jamais poderá ser reconhecida ou amada.
A relação de amor mãe-filho terá sempre, neste caso, um ressaibo de morte, de morte negada, disfarçada a maior parte das vezes em amor sublime, algumas vezes em indiferença patológica, outras vezes em recusa consciente; mas as ideias de homicídio existem, mesmo que nem todas as mães possam tomar consciência disso."

"A Criança Atrasada E A Mãe"

"Porque pode acontecer que sejam os fantasmas da mãe que orientam a criança para o seu destino.
Mesmo nos casos em que está em jogo um factor orgânico, a criança não tem só que fazer face a uma dificuldade inata, mas ainda à maneira como a mãe traduz este defeito num mundo fantasmagórico que acaba por ser comum aos dois."

"Três Ensaios Sobre A Teoria Da Sexualidade"

"-Tia, diz-me qualquer coisa, tenho medo porque está tão escuro.
-Para que te serviria isso se tu não podes ver-me?
-Não faz mal: desde que alguém fale, há claridade."

Prefácio de "A Criança Atrasada E A Mãe"

"O psicanalista é o homem que desenreda os fios do destino, faz chegar à palavra o universo imaginário que visita o seu doentinho. O homem que desobstrui os caminhos da liberdade.
O papel não é fácil."

Prefácio de "A Criança Atrasada E A Mãe"

"(...) o drama duma criança desenrola-se por vezes vinte anos, quarenta anos antes do seu nascimento. Os protagonistas foram os pais ou até os avós. Tal é a encarnação moderna do destino."

Prefácio de "A Criança Atrasada E A Mãe"

"(...) a criança percebe o pensamento do adulto, advinha a dúvida sob o elogio artificial, e descobre assim uma outra forma de cativeiro sem que a sua angústia seja por isso aliviada."

"Nadja"

"Inacreditavelmente, sempre desejei encontrar à noite, num bosque, uma mulher bela e nua. Ao perder, uma vez expresso, o sentido de semelhante desejo, causa-me uma pena incrível não a ter encontrado. Bem vistas as coisas, a hipótese desse encontro não é assim tão delirante: podia ser."

terça-feira, 8 de junho de 2010

"Nadja"

"É a minha própria experiência que me interessa, é ela e seu campo - eu próprio - que constituem para mim um motivo quase permanente de meditações e devaneios."

"Recherche D'Une Première Vérité"

"É impossível suprimir o livre-arbítrio sem suprimir a ciência, pois o livre-arbítrio é a condição da certeza."