segunda-feira, 22 de novembro de 2021

(des)fragmentações

-O que é o tédio?
-Um espaço intermédio? Transitivo?
-Entre o quê?
-A serenidade e o nada.
-Como pode haver uma transição para o nada, se o vazio é pré-existente a Tudo?
-Bem visto! Então e se o tédio for um espaço transitivo entre a serenidade e a aceitação da vivência do nada? Já que aceitar intelectualmente é diferente de experienciar!
-Como é que se experiencia?
-É só estar e pronto! Então tu experiencias o tédio há décadas e nunca chegaste lá?
-Lá? Onde?
-Ao “O”, o zero da experiência, nirvana, apocalipse inexistencial? Sei lá o nome...
-Ah, o tédio é o estado oposto ao desejo. Já sei! Depois do tédio não pode existir satisfação ou desilusão. Se conseguires tolerar o tédio, aceitá-lo com naturalidade, fluis para o estado original/inicial/zero da experiência/nirvana. E ficas o quanto te for possível.
-Neste ponto devo admitir uma certa dose de frustração...
-Então?
-Passei anos a lutar contra o tédio e a procurar sentir prazer. Afinal era simples, era só deixar-me estar e pronto!
-Parece que sim... Luta, prazer, desprazer, frustração. Flui, que isso passa.

24-08-2020