quinta-feira, 13 de julho de 2017

"Cadernos da Casa Morta"

"O recluso tem uma avidez pelo dinheiro até aos espasmos, até à perturbação mental, e se o esbanja como lixo quando entra em pândega, fá-lo por aquilo que considera estar um degrau mais acima do que o dinheiro. O que é então, para o recluso, superior ao dinheiro? É a liberdade, ou, pelo menos, algum sonlho de liberdade. Os reclusos são grandes sonhadores."

terça-feira, 11 de julho de 2017

"Cadernos da Casa Morta"

"(...) havia sempre desgraçados que perdiam tudo ao jogo ou na bebedeira, ou que eram miseráveis por natureza. Digo 《por natureza》e insisto nesta expressão. Realmente, no nosso povo, por todo o lado, independentemente do ambiente ou das circunstâncias, sempre tem havido e sempre haverá certos indivíduos estranhos, pacatos e, não raro, nada preguiçosos, mas a quem foi predestinado ficarem miseráveis para todo o sempre. Sempre solteiros, sempre desleixados, sempre com um ar embrutecido e triste por qualquer coisa, sempre a obedecerem a alguém, moços de recados às ordens, normalmente, dos farristas ou dos que, subitamente, enriqueceram e se engrandeceram. Qualquer iniciativa é para eles uma desgraça e um fardo. (...). Reparei que tais indivíduos não se encontram apenas no seio do povo, mas em todas as sociedades, em todas as categorias sociais, partidos, jornais e associações."